quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Senhora Presidente

Eu pensei em escrever para a senhora em duas ocasiões. Na primeira quando a sua burocracia tributária disse que o iPad não era um computador, porque não tinha teclado. Nunca ouvi tamanha besteira. Na segunda, quando soube que a senhora usava um iPad(achou o teclado?), desisti porque algum Bozo diria que estava defendendo meus interesses. Resolvi fazê-lo agora porque vim pra cá e acaba de ser publicada por ai a minha biografia, escrita pelo Walter Isaacson. Eu acho que ele foi bonzinho. Diz 34 vezes que eu tenho um  "campo de distorção da realidade". Maneira elegante para mostrar que fui um refinado mentiroso.
     A Senhora já se deu conta de que, no Brasil, eu e os meus produtos somos tratados como estorvos? Por causa dos impostos os iPods, os iPhones e os iPads vendidos na sua terra são os mais caros do mundo.
Quem traz um MacAir na volta de uma viagem paga R$ 650 de impostos. Se trouxer uma maquina fotográfica, paga nada. Mais: pode comprar, no desembarque, US$ 500 de bebidas alcoólicas. Vocês importam mais lixo e roupas usadas do que computadores Apple.
     Agora mesmo, a Foxconn negocia com seu governo a montagem de iPads no Brasil. Não acompanho essa conversa, mas o Alan Turing(aquele gênio gay que se matou comendo uma maçã com cianeto) me contou uma historia de "transferência de tecnologia" e percentagem de componentes nacionais. Isso é bullshit. Transferimos o que nos convém transferir, desde que a produção brasileira tenha preços competitivos.Fora isso, nem pensar. A senhora tem no Brasil uma artilharia de interesses que atrasaram o progresso do país em vinte anos na área de computadores(hoje o atraso está nuns dez). Lembra da "reserva de mercado"? Até meados dos anos 80, seria mais fácil para mim entrar no Brasil com um pacote de pastilhas de LSD do que com um Mac. Enquanto isto, alguns bobalhões montaram um galpão para clonar minhas máquinas. Garantiram-me que a senhora defendia essa maluquice. Não acredito.
     Eu soube que ha prefeituras comprando lotes de iPads. Falam até num projeto de tablet(seja lá de quem for) para cada um dos 7 milhões de estudantes brasileiros. Não permita isso, dona Dilma, eles não querem melhorar a educação, querem rapinar os contribuintes. Seu programa de um computador pro aluno é um engano administrativo a serviço da marquetagem politica e do bem-estar dos fornecedores.Outro dia pararam de pagar a capacitação de professores, mas continuaram a pagar as maquinas. Seu governo quer levar computadores para as escolas? Treine os mestres, dê um bônus a cada família e ela compra a máquina que quiser.
     A senhora  já notou como o mercado de e-books brasileiro está atrasado? Pois pense no tamanho do negócio dos livros didáticos. Seu programa de distribuição gratuita desses livros é o maior do mundo, depois do chinês. Imagine esse mercado dentro de dez anos,quando os tablets escolares custarem menos de US$ 50.
     Façamos de conta oque estamos na Apple. Esse cenário pedirá novos produtos,novas editoras e novos modelos de livros. Eu faria assim: ponha dois sujeitos para pensar só nisso. Um para projetar boas ideias. Outro pra enxotar más ideias trazidas por bons amigos.


     Atenciosamente,


     Steve Jobs(*)






  (*)Steve Jobs, fundador da Appe, falecido em 5/10/2011