"Nos
últimos tempos duas meninas chamaram a atenção do mundo e ambas foram parar na
ONU. Duas histórias muito diferentes e duas personalidades totalmente
distintas. Uma falou com pleno conhecimento de causa e outra sem conhecimento
algum. Uma trazia um sentimento nobre, palavras sensatas e um semblante
humilde; a outra exibe uma face arrogante, um discurso malcriado e interesses
ocultos nada admiráveis (e que por isso precisam permanecer ocultos).
A
que surgiu mais recentemente, a sueca Greta, que nem completou o ensino médio,
pretende dar ao mundo aulas de ecologia. A ela não faltou, jamais, qualquer
suporte material, desde antes de nascer. Nascida num dos países mais ricos do
mundo, nunca viu a miséria de perto, não faz a mínima ideia do que sejam as dificuldades
da vida, mas do alto da sua ignorância quer ditar como a humanidade deve viver.
O excesso de conforto material não evitou que a mocinha se transformasse num
pequeno poço de revolta. Em tom quase histérico anuncia que estamos às portas
de uma “extinção em massa”. Com o olhar injetado de ódio e rosto crispado,
questiona, sabe-se lá quem: “vocês roubaram a minha infância e os meus
sonhos!”.
Como
assim? O que lhe faltou na sua infância? Pelo jeito, carinho da família ou dos
amigos e uma educação que lhe abrisse os olhos para o fato (evidente) de que o
mundo é complicado mesmo e que as coisas não se resolvem do dia para a noite.
Talvez conselhos no sentido de não ser tão agressiva e rancorosa. Se foi isso
que lhe “roubaram”, garota, procure os culpados na sua casa e na sua escola,
não no resto do mundo. Ah,.... mas à escola a menina-que-sabe-tudo não vai
mais, exatamente porque já sabe tudo.
Eu
me pergunto: roubaram seus sonhos? Foi mesmo? Aos 16 bem vividos anos já não há
mais com o que sonhar? Se alguém lhe “roubou” esses sonhos e você não tem mais
nenhum, o problema está em você, não no resto da humanidade. Se você não sonha
em ter uma profissão ou uma carreira, ganhar a sua vida, ter uma família e,
quem sabe, colaborar para construir um mundo melhor, o problema está só em
você, que espera que seus “sonhos” lhe sejam entregues sem esforço. Isso não
vai acontecer, menina. Melhor se acostumar com a ideia, por frustrante que ela
seja. Talvez até hoje seus pais e financiadores ocultos tenham feito o possível
para realizar esses tais “sonhos”, mas à medida que o tempo passa, o esforço
precisa, cada vez mais, ser seu mesmo. E não adianta inchar a veia do pescoço
enquanto esbraveja na ONU, sob os aplausos de uma plateia de idiotas que,
avidamente, tentam sorver os ensinamentos que você não tem para lhes oferecer,
porque isso não vai trazer seus "sonhos" de volta.
A
outra garota anda meio desaparecida, mas não pode, jamais, ser esquecida. Em
tudo difere da petulante suequinha. Refiro-me à paquistanesa Malala. Ela, sim,
teve a infância roubada (e quase a vida se foi junto). Malala nasceu nos
confins mais atrasados do Paquistão, onde predominam costumes tribais e o
fundamentalismo islâmico. Malala tinha um sonho, estudar, e foi esse sonho, tão
singelo, que lhe tentaram roubar. Sofreu ameaças, levou um tiro na cabeça. Sua
família teve que fugir do país e ela chegou entre a vida e a morte na
Inglaterra (num antiecológico avião a jato, não num barco a vela), onde foi
salva. Malala sobreviveu para contar a sua história, para prosseguir no seu
sonho e para ajudar a fazer um mundo melhor, para si e para todas as mulheres
que sofrem perseguições e discriminações e, com o seu exemplo, dar-lhes maiores
oportunidades. Malala tinha mil razões para odiar e para se queixar, mas sua
presença, por onde passa, transmite uma mensagem de serenidade e firmeza na
defesa de ideais nobres. Malala não exala ódio, desejo de vingança, ao
contrário, cativa pela sua modéstia e seu sincero desejo de fazer o bem.
O
contraste entre as duas é brutal. Uma sempre teve tudo e acha que nada presta.
A outra, teve uma origem extremamente humilde, não tinha sequer liberdade e
quase perdeu a vida por um sonho tão modesto. Não se abateu, não se vitimiza e
não se diz “roubada”. Malala quase morreu porque desejava estudar, mas foi em
frente. Greta posa de vítima e não vai mais à escola porque, tolamente, pensa
que já pode dar lições ao mundo".
(Texto de Isaac Averbuch)