Se tivesse conseguido falar apenas de Auxílio Brasil, Pix e redução do preço dos combustíveis, ao mesmo tempo que se mostrado sereno, sem tomar William Bonner e Renata Vasconcellos como inimigos, Bolsonaro já estaria no lucro na primeira entrevista dos presidenciáveis ao Jornal Nacional.
Pois ele conseguiu as três coisas e ainda desconversou com algum talento sobre as questões mais constrangedoras — golpe, pandemia e ambiente —, cortou os entrevistadores quando foi preciso de forma a não mostrar subserviência à emissora que seus fiéis atacam e ainda conseguiu fazer um balancinho do seu governo.
Tudo somado e subtraído, saiu também sem nenhum prejuízo. E numa versão bem
melhor da que é conhecido no noticiário, passou por sereno, calmo e respeitoso.
Poderia ter lucrado um pouco mais se tivesse tido espaço para delimitar suas
diferenças com Lula, falar contra ele e o petismo tudo o que vem falando desde
a campanha eleitoral de 2018.
Mas não houve como enfiar na pauta restrita e ao mesmo tempo cheia do modo JN
de entrevista em que os entrevistadores são de fato os protagonistas,
invertendo os papéis.
É muito difícil se dar bem nesse modelo, em que os apresentadores jogam pesado
como promotores de justiça, cobram
juramentos como juízes, falam muito, esclarecem pouco, interrompem quando o
assunto começa a render e não deixam espaço para o entrevistado divagar para
fora do tema.
Como em toda entrevista na Globo, sobretudo no horário nobre, o tempo curto
para não complicar a cabeça da dona de casa que espera o início da novela é
mais importante que qualquer questão que diga respeito aos destinos do país.
Se pegarem pesado com Lula como pegaram com Bolsonaro, hoje, o ex-condenado inocentado pelo STF também mal terá tempo para
ir além das derrapadas de seus governos e das denúncias que enfrentou na Lava
Jato. A ordem no jornal parece ser a de lavar roupa suja e consertar o mundo.
Também sairá no lucro se conseguir escorregar de temas espinhosos velhos e
recentes — corrupção, aborto e religião, entre outros — e falar sobre uma ou
duas propostas de seu discurso recorrente de retomada da bonança de seus
governos, sobretudo a paternidade do Bolsa Família.
Auxílio Brasil ou Bolsa Família renovado para valer a partir de dezembro é,
enfim, o grande objetivo dos dois ao embarcar nessa nave que chega de forma
impactante nos grotões — norte, nordeste e periferias do país afora — menos
plugados em internet e mais dependentes de sua programação.
Foi a grande oportunidade de Bolsonaro, mais forte na internet que na mídia
tradicional, de falar com os eleitores do adversário nos confins que a internet
ainda não devastou, que lhe atribui o Bolsa Família e seu sucedâneo, o Auxílio
Brasil.
Hoje será a vez de Lula, e o que se espera é justamente o que Bolsonaro não
teve, por motivos óbvios. Corte de verbas de publicidade transformou o William
Bonner, um apresentador que poderia ter em sua biografia os atributos de seus antecessores Sergio Chapelin e Cid
Moreira, se tornou figura odiada pelo seu compromisso com a oposição ao governo
Bolsonaro, somado ao medo da demissão o que a meu ver não deve demorar.
Observei que , na entrevista de terça-feira do candidato Ciro Gomes a postura dos dois donos da bancada da Globo
foi outra. Simplesmente o deixou falar, expor seus planos, somente na hora
que falava algo de Lula era interrompido.
Ciro, como também Simone Tebet, os melhores posicionados nas pesquisas após a polarização, não fazem medo algum, vão ali para, quem sabe no futuro poder pleitear a cadeira do Palácio do Planalto ou sonhar com ela. Mas, no momento só estão gastando dinheiro do Fundo Partidário de seus partidos.
Por fim, na minha opinião, as eleições que estão sendo preparadas para a
vitória do Lula tal vitória não deve acontecer. Por outro lado, como disse o Bolsonaro,
o resultado da eleição só será respeitado se elas forem limpas, mas ai já é
outro caso, assunto o qual é melhor nem falar porque o Alexandre de Morais está
de olho. A ultima do todo poderoso foi proibir entrada de eleitor com celular na seção de votação.
Um candidato ficha
suja, condenado em diversos processos já transitados em julgado, preso,
cumprindo pena, ser inocentado num despacho judicial e se tornar ficha limpa é coisa bastante difícil de explicar para as
futuras gerações.
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